A morte não interrompe a comunhão existente entre os seres humanos, especialmente entre aqueles que pertencem ao Corpo Místico de Cristo. O Senhor Deus, autor dessa comunhão, faz com que os justos no céu e no purgatório conheçam nossas preces e, em conseqüência, possam orar por nós. Não há comunicação direta entre o aquém e o além, mas Deus a propicia providencialmente.
Disto se segue, que e possível nossa oração aos irmãos que estão na glória do céu, não para que nos dêem graças (Deus é a única fonte de todas as graças), mas para que intercedam por nós, obtendo-nos as graças de que necessitamos. A convicção desta verdade já era presente aos judeus do Antigo Testamento; veja-se o texto de 2Mc 15,12-14: Judas Macabeu teve a visão de Onias, Sumo Sacerdote, e Jeremias profeta, ambos falecidos, que oravam pelo povo de Deus, posto em luta contra os sírios pagãos.
A tradição cristã apresenta numerosos testemunhos de pessoas santas que, ao partir deste mundo, asseguravam aos sobreviventes a sua solícita intercessão. Assim dizia Santa Teresinha: "Se o Bom Deus ouvir os meus desejos, meu céu se passará na Terra até o fim do mundo. Sim, quero passar meu céu a fazer o bem sobre a Terra. Isto não é impossível, visto que, no próprio seio da visão beatífica, os anjos velam por nós. Quando o anjo disser: `Não existe mais tempo! ' (Ap 10,6), então repousarei; poderei gozar, porque o número dos eleitos estará completo... Meu coração exulta com este pensamento" (Verba).
Também com os irmãos que estão a se purificar, antes de entrar na glória celeste, depois desta vida, continua a nossa solidariedade. Esta crença também era familiar aos judeus do Antigo Testamento, pois rezavam em sufrágio dos mortos, como atesta 2Mc 12,42-46.
Pergunta-se: podem as almas do purgatório rezar pelos peregrinos da Terra?
- São Tomás de Aquino e os teólogos, até o século passado, respondiam negativamente, alegando que as almas do purgatório é que precisam de nossas orações; nós devemos recorrer aos Santos do céu, e não a elas; cf S. Teológica II/II, qu. 83, art. 11, ad 3.
No século passado, porém, aconteceu algo que permite responder afirmativamente: o Papa Leão XIII, aos 14/12/1889 aprovou uma oração que pede às almas do purgatório que roguem pelo Papa, pela exaltação da Santa Igreja e pela paz das nações. O Concílio Vaticano II quis abster-se de tocar no assunto.
Podemos, pois, dirigir-nos às almas do purgatório, mas não esqueçamos que elas mais precisam de nossas preces do que nós precisamos das orações delas; temos os Santos da glória celeste como intercessores qualificados.
(D. Estevão Bettencourt, OSB)
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